Por que “prever tendências” virou tendência?




Há 10 anos, quando fiz o curso de Coolhunting, quase ninguém entendia o que era essa profissão tão intrigante. “É tipo aquele pessoal da Pantone?”, “Ah! Já sei! São vocês que ditam o que vai ser moda.”


Concluído o curso, passei grande parte do meu tempo compilando informações, registrando idéias e armazenando imagens daquilo que eu percebia que seriam as tendências dos próximos anos. Sempre tive vontade de compartilhar com mais pessoas o que descobrira, mas ainda era insegura. “E se a minha previsão estivesse errada”.


Conversando com amigos e familiares sobre os assuntos que surgiam em minhas pesquisas, fui incentivada a dar um passo além. No ano de 2018 comecei, timidamente, a postar algumas análises no meu Instagram. 


Pouco tempo depois, a insegurança bateu novamente e eu deixei meu perfil de lado e voltei a me dedicar à pesquisa de forma discreta.


Mas em 2019, recebi uma mensagem por direct “Você aí que prevê as tendências, o que vai acontecer agora? Quais serão as novas tendências?” sem nenhum receio respondi que a pandemia iria catalisar as tendências que já estavam por emergir. Para mim, que estava estudando o futuro do comportamento de consumo nada de muito novo iria surgir, mas e para os outros?


Naquele momento ficou evidente que todo o conhecimento que havia acumulado por anos seria novidade para 90% das pessoas.


Quando o mundo se viu preso dentro de suas casas, muitos lojistas se deram conta de que jamais haviam previsto algo assim. Muitas empresas quebraram, inúmeros negócios surgiram e o mais surpreendente: quem estava com seu produto ou serviço preparado decolou. 


Percebi, então, que a chave havia virado. O varejo inteiro voltaria o seu interesse para a prevenção: prever para se precaver. A bolha das tendências havia sido rompida e essas informações valiosas passaram a valer ainda mais.


Mas como levar esse tipo de conteúdo para pessoas comuns? Como traduzir a análise de tendências para a linguagem mais próxima do público geral? 


Já em 2020 eu vi coolhunters mudando a descrição de seus perfis no Instagram e Linkedin para “analistas do futuro”, “facilitadores de futuros”, “especialista em futuro” e outras coisas do tipo. Observei (e anunciei) que prever tendências seria a próxima tendência e meses depois, meu oceano, que era absolutamente azul, passou a ser visitado por tubarões.





A cada dia surgem mais cursos de tendências e profissionais “especialistas em futuro”. Todos estão ávidos por saber o que virá depois.  (Inclusive, umas das tendências decorrentes disso são as imagens de astronautas, de profissões ligadas à altíssima tecnologia e de elementos místicos.)


A pandemia passou, mas o que virá a seguir? Os profissionais e empresários se deram conta de que se antecipar é mais sério do que imaginavam. Mesmo os pequenos negócios precisam se preparar, não para os próximos dois ou três anos, mas para os cinco, seis, dez!

E só com uma boa pesquisa de comportamento de consumo e uma boa dose de fé na intuição que isso se torna possível.


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